segunda-feira, 4 de julho de 2011

Espalha Esperma (Parte 1)

por Detetive Linhares
ilustração: Daniel Gonçalves

Cheguei perto da porta. Cheiro de sangue. Do outro lado gemidos de uma voz jovem. Tentei escutar mais algum barulho. Nada. Saquei a Jéssica. 1, 2, 3. Arrombei a porta. A cena não era das mais agradáveis, mas ainda tinha solução. Uma menina de aproximadamente doze anos estava jogada em um sofá, seminua. Uma janela do seu lado direito estava aberta e a cortina esvoaçava.
- O cretino fugiu.
Antes de dar atenção à moça dei uma rápida revistada na casa. Ninguém.
- Você está bem?
Eu sei que é uma pergunta cretina para o momento, mas me ajuda a saber como estão os sinais vitais da menina.
- Humm...minha...
- Não fale nada, menina. Eu sou detetive e vou te levar prum hospital.
Ela tinha alguns cortes pelo corpo. Coisa de profissional. O cara não a esfaqueou. Fez o sangue escorrer prela ficar lesada. Havia um corte no braço, um na barriga, na altura do rim, um no pescoço e um na panturrilha. Ela estava pálida. Liguei para o Siate. Estanquei os cortes. Por sorte ele ainda não havia penetrado a moça. Havia algumas escoriações na região da vagina, mas, de fato, nada havia acontecido. Cobri-a com um cobertor. O Siate chegou em cinco minutos.
- Detetive Linhares.
- Tenente Carlos.
- Alguma coisa?
- O cara deve ter fugido pela janela quando me ouviu chegar. Ela está com cortes e o cretino tentou estuprá-la.
- Mas vai ficar bem. Já tem pistas do cara?
- Pelos cortes é o Espalha Esperma. Ele deixa a vítima lesada, sem força para reagir, e depois a estupra.
- Coisa de profissional.
- Ele tem algum problema com bucetas. No final o cretino costura e cauteriza os grandes lábios da moça pra que ela não trepe com mais ninguém.
- Caralho!
- Crime de ódio.
Deixei os médicos cuidarem da menina e fui até o Distrito falar com o Chefe Tavares.
- Ela está bem.
- E o estuprador?
- É o Espalha Esperma. Vou achá-lo. Conheço uma menina que foi atacada por ele.
- Ele não tem ficha. Como você sabe?
- A sala estava com o cheiro do safado. Preciso de três dias.
- Feito. Três dias. Depois disso vou acionar o Delegado Mendes.
Saí do Distrito e fui encontrar a menina que foi estuprada pelo Espalha Esperma. Passei numa padoca e peguei um café duplo. Era final de tarde. Ela devia estar indo pro trabalho.
Passei no ponto dela e nada. Mas o patrão já estava na rua.
- Cadê a Taty?
- Detetive Linhares, quanto tempo? Querendo diversão?
- Deixa esse sotaque ridículo de carioca de lado e me diz onde tá a moça.
- Não chegou ainda, detetive. Não sei se ela vai te atender. Ela tem um cliente agendado para as sete horas.
- Não perguntei o que ela vai fazer. Cadê a Taty?
Disse e fui descendo do carro. Comecei a ficar puto com a falta de colaboração do cretino.
- Calminha aê, detetive. Ela já deve tá chegando. Guenta aí. Dez minutinhos.
Eu não sei donde esse bosta tirou esse sotaque ridículo. Encostei no capô do Inércia e esperei. Odeio esperar. Fico irritado. Saquei o vidrinho e mandei uma pra acalmar.
- Tá afim?
- Aêê, detetive. Mandô bem, hein! Uma cafungadinha pra começá os trabalhos não é nada mal.
O cara abaixou a cabeça pra cheirar e eu preguei sua cara contra o carro.
- Escuta aqui, seu cretino! Larga mão desse jeitinho idiota de falar comigo ou eu vou quebrar teu crânio em mil pedaços! Tá me entendendo?
- Porra, detetive. Qualé? Tô querendo ajudá! Faz isso, não!
Larguei o cara no chão.
- Não mete o nariz onde não é chamado, seu bosta!
- Ei, ei! Que tá acontecendo aqui? Para com isso, detetive!
A Taty chegou correndo e foi logo tratando de socorrer o seu comparsa (marido, gigolô, traficante, etc...).
- O nariz dele tá sangrando!
- Entra no carro.
- O que você qué? Uma chupadinha pra baixá o facho? Hein?
- Taty, cala a boca e entra duma vez!
- Vai com ele, Taty. Ele tá doidão.
Entramos no carro e fomos dar uma volta.
- Tô procurando o Espalha Esperma. Cê sabe alguma coisa?
- Você sabe que eu não gosto de falar sobre isso.
- Ele atacou uma menina de doze anos e eu vou arrancar a pele dele. Então é bom você começar a abrir a boca.
- Olha aqui, detet...
- Olha aqui o caralho! Esse cara não vai mais arrebentar ninguém! Cê tá me ouvindo? Fala duma vez, porra! Não fica me enrolando que eu não tenho a vida inteira!
Ela respirou fundo e se acalmou. Acendeu um cigarro. Dei uma carreirinha pra ela. Ela se animou.
- Eu vi ele no Blue Velvet quarta-feira. Tava pegando uma guria lá.
- Como era essa guria?
- Baixinha, cabelo vermelho. Devia ter a minha idade. Bem bonitinha ela. Rostinho angelical, hehe. Carinha de quem não conhece o Blue. Não imagino o que uma ninfeta daquela faz num bar como esse.
- Foda-se o que ela tava fazendo lá. Quero saber pra onde eles foram, quem é essa menina, qual é a porra da ligação dos dois!
- Calma, detetive. Comé que eu vô sabê disso?
- Sei lá, caralho! Ela deve ser a próxima vítima dele.
- Você não tá nem aí, né? Quando eu vi o safado lá fui embora do bar. Ainda tenho medo dele. Mas a Frida diz que viu ele saindo com essa guria e entrando num carro branco.
- Pegô a placa?
- Claro que não, detetive! Você tá loco! Porque alguém ia ficar anotando placa de carro?
- Porque o cara é um assassino sangue-frio e vai matá mais gente enquanto eu não fudê com a vida dele! Que caralho! Vocês vivem em que mundo, hein?
Parei o carro próximo à Praça Osório.
- Desce.
- Eu não trabalho aqui hoje.
- Desce, porra!
- Seu veado!
Ela desceu a contragosto. Ficou me xingando. Eu saí e fui até o tal bar dar uma averiguada.

(continua...)

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